Amdepro participa da posse de Bruno Digiovanni: “quero mudar a vida das pessoas”, disse novo defensor
A sexta-feira (18) foi dia de comemoração na Defensoria Pública do Estado (DPE-RO). Bruno Digiovanni Lins Cajazeira de Macedo Campos tomou posse como defensor público. A solenidade contou com a participação da presidente da Associação dos Membros da Defensoria Pública de Rondônia (Amdepro), Silmara Borghelot; além do defensor público-geral, Marcus Edson de Lima; demais defensores e familiares de Bruno.
“É um momento ímpar na vida da gente, inesquecível! É uma alegria muito grande para nós. Você demonstrou ser uma pessoa comprometida com a causa que vai trabalhar. Já tivemos a curiosidade de conversar bastante e a gente só tem o orgulho de receber uma pessoa tão preparada na nossa instituição. Seja bem-vindo no que precisar! Aproveito para te parabenizar por se associar. É uma força maior para a nossa associação e para a associação nacional (Anadep), que faz um trabalho junto à Defensoria Pública para cada vez reafirmar nosso papel com a instituição e com as pessoas mais vulneráveis na sociedade. É uma grande honra receber você!”, ressaltou Silmara que entregou um bóton da Amdepro para Bruno.
O defensor público geral comentou que a DPE-RO vai, aos poucos, dando posse, à medida que consegue evoluir no orçamento. “O governador sinaliza dando o sentido de que a gente consegue avançar. Então, não dá para fazer uma posse para cada defensor fracionadamente pomposa como você merece. Mas, a grandeza do mérito é a mesma, ou seja, continua sendo uma grande conquista e principalmente para a Defensoria Pública de Rondônia, que ganha muito hoje. Pode ter a certeza de que você é muito bem-vindo e aqui somos todos como uma família”.
Em um discurso emocionado, Bruno disse que conheceu a Defensoria Pública um pouco tarde, apenas no quarto ano da faculdade, por intermédio de uma professora chamada Priscila Rocha. Disse que foi ela uma das responsáveis por ele querer entrar na instituição.
“Durante suas aulas, foi apresentado ao direito penal falsamente humanitário, cuidadosamente enfadado ao fracasso. Punitivo, sedentivo, exterminador de vulneráveis e minorias. Ao mesmo tempo, tive o prazer de conhecer a instituição responsável por conter esse desmedido poder estatal. Depois, percebi que a atuação da Defensoria Pública não se resumia à parte criminal. Aprendi que sua presença era necessária em todos os locais da sociedade”, falou o novo defensor.
Bruno contou que depois de algum tempo de formado, iniciou os estudos para concurso público e decidiu que se tornaria um defensor. “Mas, concurso público não tem toda hora, não tem data anual como o vestibular. Você começa a estudar para uma prova que talvez apareça depois de dois anos”, lembrou.
Ele ainda lembrou de alguns dilemas que teve no período em que estudava para concurso. “Depois de certo tempo e de algumas reprovações, começaram os questionamentos internos. Será que um dia vou passar? Será se estou no caminho certo? Estou perdendo tempo? Além disso, tiveram as perguntas de familiares, amigos, colegas de trabalho sobre como fui na prova, quantos candidatos, quantas vagas. – ‘Minha prima de quinto grau estudou seis meses e já passou’. – ‘Quantas horas você está estudando?’. – ‘E se tentasse outro cargo?’. – ‘O irmão da minha chefe falou que o sobrinho dela passou para um concurso de juiz federal sem estudar’… [risos]. E não para por aí. Quando finalmente vem a aprovação, surge a outra fase do interrogatório. – ‘Quando sai a nomeação?’. – ‘Quanto é o salário?’. – ‘Em qual cidade vai morar?’. – ‘Tem algum auxílio?’”, brincou.
Com os olhos cheios d’água e com um semblante de quem se sentia com o dever cumprido, o novo defensor público citou que após algum tempo, percebeu que quem fazia tais questionamentos eram aqueles que realmente se preocupavam com ele. Aqueles que estariam ao seu lado, mesmo que durante o período de estudos encontrassem pouquíssimas vezes. Eram aqueles que permaneciam com ele, antes, durante e depois da aprovação.
“O caminho até aqui foi difícil, cheio de desafios, incertezas, derrotas e vitórias. Um caminho repleto de obstáculos cobertos de sombra. Mas, quanto maior o obstáculo, maior é a luz que estará escondida atrás dele. E quando essa luz é seu nome no Diário Oficial, ela te cega totalmente. Ou, no meu caso, uma ligação que te deixa completamente desorientado… Na terça-feira, 20 de novembro de 2018, toca o meu celular. Na tela aparece Marcos Edson, defensor público-geral. – ‘Alô, Bruno? Estou preparando o seu termo de nomeação. Vai sair no dia 7 de dezembro. Em janeiro, você toma posse’”, citou. E completou lembrando o que pensou no momento: “meu Deus do céu, vou ser defensor público? Vou”.
Homenagem à família
Ainda com lágrimas nos olhos, Bruno agradeceu à família e à namorada. “Mãe, pai, por ‘culpa’ de vocês, hoje estou aqui”, voltou a brincar. “Não tinha ideia para qual curso faria a inscrição no vestibular e vocês me sugeriram cursar direito. Agora digo obrigado pela vida de privilégios e por me fazer perceber que eu poderia utilizar esse privilégio para transformar a vida das pessoas. Obrigado por esses trinta anos de cuidado constante, amor incondicional, pela sabedoria em cada conselho que eu só fingia não ouvir, mas, sempre segui. Obrigado por se dedicarem tanto por mim, quanto meus irmãos. Por formar essa muralha de tranquilidade e força, e me ensinarem que para tudo há uma solução”.
O mais novo defensor público de Rondônia também comentou sobre os irmãos. “Meus irmãos Frank e Luca, meus primeiros amigos, meus companheiros desde sempre. Hoje, cada um em uma cidade, separados pela distância, mas, sempre caminhando juntos. Agradeço à toda minha família: minha avó Irma, Izonete, Alessandra, Rubens, Guilherme, Tio Paulo, Beatriz, e a todos os meus amigos. Obrigado por compreenderem a minha ausência em tantos momentos”.
“Agradeço também a família Sobral, por me acolherem em Porto Velho em todas as fases do concurso. Se não fosse por vocês, jamais teria conhecido Rondônia. Ao defensor público-geral, Dr. Marcus Edson, pela constante luta, tanto em âmbito estadual como nacional, por uma Defensoria Pública efetivamente estruturada e autônoma”, completou.
Também agradeceu a todos que fazem parte da Defensoria Pública de Rondônia, “Agradeço por terem me recebido tão bem, antes mesmo da nomeação da posse. Aos demais aprovados no quarto concurso, futuras defensoras e defensores de Rondônia, por todos os materiais, dicas e treinos para as provas e claro, Roberta, minha amada namorada e futura noiva, esposa e mãe dos nossos filhos. Muito obrigado pela preocupação contínua, pelo cuidado diário, pelo apoio ilimitado em cada uma das fases de tantos concursos, inclusive fazendo o papel de examinadora. Pela compreensão, já que em boa parte do tempo, eu tinha que trocar você por aviões, hotéis, livros, cursos e o Vade Mecum. Por me trazer amor e felicidade a cada momento ao seu lado. Por ser essa mulher maravilhosamente completa, que me fascina todos os dias e cada vez mais”.
Criterioso nos agradecimentos, agradeceu a família da namorada, que disse ser também sua família. “Adalberto e Fernando, vocês também fazem parte dessa conquista. Como podemos ver, tive muita ajuda nessa trajetória, mas, não trilhei esse caminho para mim. Foi apenas o meio encontrado para resgatar as pessoas”.
Missão de vida
Após a posse, afirmou que quer transformar a vida de quem é parado na rua em razão da cor da pele, entre outros motivos. “Quero mudar a realidade daqueles não conseguem emprego, porque a imagem externa não condiz com o nome indicado na Carteira de Trabalho. – ‘Quando a gente é expulso de casa, a rua é a única alternativa. Não te aceitam na empresa, mas, vão te procurar a noite na esquina’”, fez nova citação.
“Também quero mudar a vida daquele que cumpre pena com outras 57 pessoas em uma cela com capacidade para seis. Fica todo mundo em pé. Para dormir, tem que revezar. Cada um dorme um pouco, dividindo o chão com barata. Só gente pobre, ‘lascada’, que viveu a vida inteira na periferia. Da criança, que tem a sua infância fulminada”.
Citou: “no começo eu resisti, então fui amarrada, coberta por formigas e chicoteada com cabo elétrico. Depois disso, não ofereci mais resistência”.
E disse: “pretendo mudar a vida daquela que em vez de receber ajuda, é vítima de interrogatório. – ‘Por que estava andando sozinha na rua?’ – ‘Qual roupa você estava usando?’ – ‘Tem certeza de que não conhecia a pessoa que te atacou?’”.
Finalizando, Bruno afirmou que ainda quer transformar a vida desses e de tantos outros grupos vulneráveis, que veem o Estado diariamente reduzir a quase inexistente a esperança de mudança. Foi enfático em dizer que quando você tira a esperança de uma pessoa e quando você destrói a capacidade de sonhar com dias melhores, você dela tira tudo.
Por fim, parafraseou as palavras do ministro Celso de Mello. “Cumprir a missão da Defensoria Pública de possibilitar às assistidas e aos assistidos o direito a terem direitos, uma prerrogativa básica que se qualifica como fator de viabilização aos demais direitos e liberdade. O direito a ter direitos, o direito essencial, inerente a qualquer pessoa, especialmente àquelas que nada têm e de que tudo necessitam”.
Fonte da Notícia: Ascom Amdepro