8 de outubro de 2020 16h12min - Atualizado em 18 de novembro de 2020 às 14h03min

Defensor público de RO Flávio Júnior Campos é destaque no “Histórias de Defensor” da Anadep

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A Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos – Anadep – trouxe este mês uma edição do projeto “História de Defensor”  para contar um outro lado da vida de Flávio Júnior Campos Rodrigues, que além de ser Defensor Público de Rondônia, também fabrica cervejas artesanais. 

Confira a entrevista na íntegra:

“História de Defensor” desta semana traz uma entrevista especial com o defensor público de Rondônia Flávio Júnior Campos Rodrigues, que nas horas vagas dedica-se à fabricação de cervejas artesanais. 

Cervejas artesanais ou especiais são aquelas que foram fabricadas a partir de uma técnica de trabalho manual, utilizando ferramentas mais rústicas e fugindo do maquinário refinado das grandes empresas.

Considerada uma das bebidas mais antigas e populares do mundo, a cerveja tem uma infinidade de tipos, como lager (baixa fermentação), ale (alta fermentação) e lambics. Além de vários estilos, com cores e sabores diferenciados. Aí entram na cartela, nomes conhecidos dos cardápios, como: Weiss ou Weizen, IPA, Stout, Pilsen, Amber Lager, Bock, entre outras. 

Conforme explica Flávio Rodrigues, a cerveja é bem-vinda em várias ocasiões, seja no happy hour ou até na harmonização de pratos da alta gastronomia.  

ANADEP – 

Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?

Ingressei na carreira em 25/09/2014. Quando comecei a estudar, não imaginava prestar concurso para a Defensoria Pública. Cursei Direito na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), no Campus de Cacoal/RO, de 2002 a 2007. Por volta do ano de 2005, fiz estágio no mesmo Núcleo da Defensoria onde atuo hoje.

Naquela época, a estrutura da Defensoria era muito precária, pois a Emenda Constitucional 45/2004 — que deu autonomia administrativa e financeira às Defensorias Públicas estaduais  — não tinha completado seu primeiro ano. Dessa forma, ainda não havia estrutura mínima de pessoal e de material; com muita dificuldade até para itens básicos, como papel sulfite para impressão das peças. Os atendimentos eram anotados num caderno e os estagiários se revezavam nos dias da semana, pois o núcleo era muito pequeno para comportar todos. 

Diante da falta de estrutura, os estagiários levavam consigo as anotações dos atendimentos, elaboravam as minutas, imprimiam nas suas casas e depois levavam ao núcleo para Defensora Púbica ou o Assistente Jurídico (que na época existia) para fazer as devidas correções.

Ainda enquanto acadêmico, também fiz estágio no Tribunal de Justiça e no Ministério Público. Na Defensoria Pública e no Ministério Público, a duração do estágio foi maior e, no Tribunal de Justiça, fiz somente o necessário para atingir a meta determinada pela grade acadêmica. 

Depois do estágio nas três instituições e conhecendo um pouco das atividades exercidas por cada uma delas, mesmo diante das dificuldades iniciais, acabei me identificando com o propósito da instituição de fornecer amparo jurídico às pessoas em situação de hipossuficiência, sobretudo financeira. 

No ano de 2010 foi lançado o II Concurso para ingresso na carreira de defensor público do Estado de Rondônia. Cheguei a cogitar em prestar o concurso, mas com havia parado de estudar optei por não fazer. Não me recordo quando, mas por volta do final do ano de 2011 ou início de 2012, soube que a DPE/RO abriria o III Concurso, a partir de então direcionei os estudos.

O certame não foi fácil para mim. Passados as provas objetivas e subjetivas, o problema agora seria a prova oral. Nunca tinha feito uma. Tive muita ajuda da minha amada companheira Andressa e também de muitos amigos e familiares, e consegui alcançar meu objetivo: a aprovação.

Um dos seus hobbies é a fabricação de cerveja artesanal. Como surgiu este interesse?

Tinha lido algo sobre cervejas artesanais e resolvi comprar algumas garrafas. Como na minha região não havia quem vendesse cerveja artesanal, então o jeito seria comprar pela internet, mas a demora na entrega e o custo com frete para a região Norte me fez desaminar. Comprei somente uma e achei excelente a cerveja. Assim despertou em mim o interesse em fazer a minha própria cerveja. Comecei as pesquisas pela internet e, depois ler muito e assistir vídeos (cerca de um ano), comecei a fazer. A primeira tentativa já foi aprovada pelos meus familiares. Continuei fazendo e testando novos ingredientes e sabores.

Pode nos explicar um pouco sobre o processo de fabricação?

Primeiramente fiz um curso on-line para entender o básico: a produção como um todo. A internet facilita muito o conhecimento. Há inúmeros canais no Youtube falando sobre equipamento para a produção da cerveja, fabricação da cerveja em si, moagem dos grãos até o envase. E o mais importante: é tudo gratuito.

Em regra, uso somente quatro ingredientes: água, malte, lúpulo e levedura, que é o fermento. Há possibilidade de acrescentar uma quantidade infinita de outros ingredientes. Uma vez acrescentei mel, mas prefiro aquelas com os quatro ingredientes básicos.

Faço num equipamento que eu mesmo fui montando aos poucos. É quase tudo manual, exceto um controlador de temperatura que comprei na internet que facilita muito. A fabricação é na área externa da minha casa.

O processo de produção não é simples e é bem demorado. Começa com a lavagem (que precisa ser minuciosa) e esterilização dos equipamentos com álcool 70. Após, passo à moagem do malte; em seguida, esse malte é fervido a uma temperatura que varia de acordo com a cerveja que está sendo produzida.  Finalizada essa etapa, retiro o bagaço do malte. O que fica é chamado de mosto, então começo nova fervura com adição do lúpulo.

Levo de 6 a 8 horas, desde a moagem dos grãos até a finalização e lavagem dos equipamentos, antes e depois. Após o processo de cozimento, a cerveja fica numa geladeira exclusiva, com temperatura controlada, de 10 a 15 dias, fermentando. Em seguida, mais 7 a 10 dias maturando. Depois desse processo, transfiro para os barris e passo à carbonatação (gaseificação). Levo de 2 a 3 dias carbonatando. Findo esse processo, fica pronta para consumo; coloco os barris na chopeira para gelar.

Se olharmos um pouco no passado, é possível perceber que diversas cervejarias surgiram a partir de concursos cervejeiros, o que você acha sobre os concursos? Já participou de algum?

Os concursos cervejeiros contribuem significativamente para divulgação da cerveja artesanal, e ainda têm a possibilidade de destacar as melhores. Ainda não participei de nenhum concurso. Acho que tenho muito a aprender ainda (risos).

E a famosa pergunta, por que fazer cerveja?

Por hobby e pela qualidade diferenciada do produto. Quem aprecia cerveja, constata a diferença. Ademais, a sensação de poder apreciar uma cerveja que você produziu é ótima. 

Você tem um rótulo preferido?

Risos… Não tenho preferência por rótulo, mas posso dizer que ainda não me acostumei com as mais amargas que tem um IBU (International Bitterness Unitis), que é o índice de intensidade do amargor da cerveja, mais elevado. Sou um apreciador. Sempre experimento cervejas novas que encontro, e não consigo apontar um rótulo favorito. Sempre vario a cerveja que compro. Contudo, as cervejas indicadas como “puro malte” (que basicamente são feitas apenas com cereais maltados) são, no mais das vezes, mais saborosas.

Como você enxerga o mercado de cervejas artesanais?

O mercado das cervejas artesanais vem numa crescente. Pelo que tenho lido e assistido, ainda há muito espaço para quem quiser empreender nesse ramo.

E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?

Se considerarmos a Defensoria Pública que eu conheci, quando era estagiário lá em 2005, a melhoria é muito significativa e isso se deu principalmente com a Emenda Constitucional nº. 45. Mas ainda é preciso fazer mais. O PLC 114/11, que alteraria o Lei de Responsabilidade Fiscal, conferindo até 2% do orçamento às Defensorias Públicas nos Estados, caso não tivesse sido vetado, seria mais um avanço para que a Defensoria Pública pudesse ampliar seu alcance de atendimento.

São poucos os estados em que a Defensoria Pública se faz presente em todas as comarcas; e, mesmo nessas, o atendimento ainda é deficiente. Não raras as vezes, há somente um defensor na comarca, mas há diversos juízos; assim, é comum a ocorrência de atos judiciais simultâneos, não podendo o defensor participar de todos. É o hipossuficiente quem fica no prejuízo.

O fortalecimento da instituição é feito com estruturação adequada, de pessoal, equipamentos, dentre outros. E investir na Defensoria Pública, significa dar cumprimento à obrigação constitucional do Estado de prestar apoio jurídico integral e gratuito aos hipossuficientes.

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